quinta-feira, 10 de março de 2016

Por causa de Braancamp Sobral o jovem padre Martins foi cambiado para o Porto Santo

Coronel D. António Braamcamp Sobral, governador civil do Funchal condecorando um militar, 10 de Junho de 1970.

Mas nesse ano foi diferente, convidaram um jovem padre. Porquê? O dr. Emanuel Paulo Ramos era o presidente da Sociedade de Geografia na Madeira e era essa instituição que organizava as cerimónias. Ele veio falar comigo e disse que queriam que fosse eu a fazer o sermão. Eu perguntei se não estava enganado e queria, mesmo, um caloiro como eu a fazer o sermão. Ele insistiu e lá fui. Fiz algumas afirmações polémicas. Uma delas foi que os maiores criminosos não estavam na cadeias. Outra, foi dizer que Cristo não precisa de adoradores que venham ajoelhar-se em fofas almofadas vermelhas. O que eu fui dizer! Quem estava ajoelhado na almofada vermelha era o governador, o Brancamp Sobral! Guia de marcha para o Porto Santo. (ver Pravda)
Como é que olha, neste momento, para a actual Assembleia. Está um bocadinho mais equilibrada em termos de oposição e poder. De qualquer forma, continua a ser hegemónica. Melhorou, tende a melhorar?

Por este caminho que agora foi encetado, tende a melhorar. Mas isto é a transição entre uma maioria que efectivamente esmaga para uma insegurança numérica. A travessa continua agitada. Mas se isto prosseguir, sem dúvida que a Assembleia ficará disciplinada, civilizada. As ideias de cada partido serão mais transparentes, mais visíveis. O que faz a maioria ali? Não tem classificação. Poderia utilizar várias metáforas. Nada. A maioria não deixa que transpareça, que se alevante uma argumentação sólida e inteligente. Esta fase vai caminhar para uma maior dinâmica, avalanche. Eles vão cair. Mas a maioria ainda conserva resquícios. Vejamos como reagem. O presidente da Assembleia é o grande culpado daquilo tudo. Eu sei o que sofri. Com aquele sorriso cínico e alarve perante as minhas intervenções. A minha boa educação era interpretada como fraqueza. Daí que o Coelho [deputado do PTP], apesar dos seus exageros, é muito útil naquela Assembleia. Ele está a fazer com que venha ao-de-cima toda a fieldade, toda a imundice que vai naqueles corpos e naquelas almas da maioria. Haverá excepções, conheci deputados da maioria educados, correctos, com quem hoje falo e cumprimento com muito gosto. Mas aquilo é uma casa inútil.
Há casas da má vida que são mais úteis do que aquela. Digo isto e provo. Inútil. Devia acabar. Como está é uma casa inútil. O Povo vai abrindo os olhos mas tarda. Quantas vítimas foram esmagadas para que o Povo vá abrindo os olhos. O Povo é o mais esmagado de todos. É um mistério da psicologia humana este masoquismo. É também a educação religioso: sofrer. Cristo não advogou isso. Nada. Porque me bates, que mal é que te fiz, qual o meu crime para que me dês um soco?.
No seu tempo houve o famoso episódio das pratas da Assembleia. Houve incidentes resultantes disso. Como é que, a esta distância, olha para esse episódio?
Olho com saudade das pratas. Onde é que estão as pratas? O CDS pediu um inquérito para averiguação do desaparecimento das pratas. Aquilo ia dando uma boa peça de teatro. Os deputados do PSD encarregaram-se de abrir pistas. Se a procissão saía do adro íamos apanhar. Mas não, o líder da maioria pediu votação imediata. A maioria que esmaga, esmagou o inquérito. Nódoa maior foi o PSD ter abafado de forma comprometedora o inquérito pedido pelo CDS. Só pelo termo comprometedora, meteram-me um processo crime em cima. O mais engraçado é que o PSD falou com cinco advogados da sua área e nenhum aceitou. Viram que era um processo político que não tinha pés para andar. Quem aceitou foi o Dr. Miguel Albuquerque. Já lhe disse, em brincadeira, que se ele chegou a presidente da Câmara do Funchal deve-o a mim. Aceitou patrocinar a acção do Governo e subiu. O certo é que o processo foi de tal ordem que o meu advogado, de Lisboa, nem precisou de ouvir as minhas testemunhas. Os senhores do PSD é que se encarregaram de enterrar-se e enterrar a causa. A própria procuração que o presidente do Governo passou não tinha poderes bastantes para que o advogado patrocinasse a causa com poderes especiais. Até a procuração estava mal feita. Veja o que é esta gente cega que ataca como um touro. Como dizia na Assembleia, este Governo precisa sempre de um pano vermelho à sua frente para investir seja como for. (DN)

Miguel Albuquerque chegou a presidente do governo deve-o ao padre Martins



«...engraçado é que o PSD falou com cinco advogados da sua área e nenhum aceitou. Viram que era um processo político que não tinha pés para andar. Quem aceitou foi o Dr. Miguel Albuquerque. Já lhe disse, em brincadeira, que se ele chegou a presidente da Câmara do Funchal deve-o a mim. Aceitou patrocinar a acção do Governo e subiu. ...»

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