sexta-feira, 11 de julho de 2014

Os Consigliere

Ricardo Salgado
(por Henrique Custódio nosso comentador semanal em  Economia Política)

Os desenvolvimentos do caso Espírito Santo não expõem unicamente os malefícios da influência de uma família de banqueiros; também evidenciam o afundamento despudorado do Governo do PSD de Passos Coelho na mixórdia, há muito cozinhada por sucessivos próceres do autodesignado «partido social-democrata».

Encenando indiferença, Passos Coelho não hesitou em transformar a sua incapacidade em pôr o Estado a intervir descaradamente em favor dos Espírito Santo numa indecorosa farronca a afirmar a «independência do Governo» perante os «assuntos privados de um Grupo».

Mas o truque da «independência do Governo» escancarou o jogo ao colocar na direcção do BES (o banco do Grupo) um trio fatal: Vítor Bento, um economista neoliberal que Passos e Cavaco têm vindo a acrisolar (até fazia parte do Conselho de Estado), João Moreira Rato, vindo da empresa que administrava a dívida pública (muita dela comprada/negociada pelo BES) e Mota Pinto, viajando directamente da bancada do PSD para a presidência do dito.

A este trio chama o Governo de Passos uma «equipa independente», «tecnocrática» e «caucionada pelo governador do Banco de Portugal», lui même, o agora tão incensado Carlos Costa e que também tem um passado pelos encobertos meandros da Banca trilhados por gente do «bloco central», PS e PSD, mas com particular relevo para este último. Os governos do PS dedicaram-se mais às empresas de construção civil embora, obviamente, nunca descurando os interesses dos exmos banqueiros.

Muito andou a «família Espírito Santo», desde que o segundo da geração foi um fervoroso apoiante nazi e o conselheiro de Salazar que reunia com ele semanalmente. A nacionalização do BES no 25 de Abril foi mero contratempo e as privatizações abertas por Cavaco Silva, enquanto chanceler, iriam recompor o Grupo em nova ligação estreita ao poder, agora em democracia, o que não impediu que o GES, sob a batuta de Ricardo Salgado, fizesse e desfizesse governos a bel-prazer. Ficaram célebres intervenções suas, seja a determinarem a queda de Sócrates e a entrada da troika, seja a participar (!) num conselho de ministros de Passos, dias antes de ele assumir sérias decisões (gravosas como sempre) perante o País.

O PSD (e em menor exposição o PS) está enterrado até ao pescoço com a Banca, a quem os seus governos foram entregando paulatinamente a influência e as rédeas sobre o poder democrático do País, desembocando nos escândalos BPN e BPP – ambos dirigidos por um formigueiro do PSD – e agora na «solução» do BES, que coloca à frente do banco – e para substituir a «famiglia» Espírito Santo, cujas burlas bancárias a tornaram incompatível com a função – um trio de indefectíveis «laranjas».

Finalmente, o PSD publicitou-se como uma espécie de consigliere da família Espírito Santo.

Sem comentários:

Enviar um comentário